terça-feira, 26 de outubro de 2010

A DÉCADA DE BILBAO

Será que atingimos o clímax ou término de uma era? Uma era em que podemos chamar Década de Bilbao?
A desaceleração esta se espalhando. Tornando-se cada dia mais abrasiva. E ainda não terminou. Não ha nada a fazer, somente esperar e acreditar.
Projetos de todos os tipos estão sendo adiados ou parados, sem ninguém saber por quanto tempo. Clientes pedem aos seus arquitetos para pararem o trabalho ate segunda ordem.
Mesmo setores como hospitais e universidades, que normalmente se sustentam em tempos de crise, estão sofrendo.
A situação descrita acima não é matriz para todos os lugares em nosso mundo.
Nos Emirados Árabes, especialmente em Dubai, localizado na península Árabe, o sol ainda brilha. De fato esta brilhando tanto que um hotel, que esta próximo da inauguração, oferecera para seus hospedes um praia artificial com areia refrigerada. Ventiladores gigantes irão garantir a brisa fresca aos usuários da mesma. Ao contrario dos ventiladores que produzem energia através dos ventos, esses usarão imensas quantidades para gerar o vento e refrigerar a água de suas enormes piscinas e a areia de sua praia. Numa época em que a questão energética esta no topo das conversas internacionais, essa "grande idéia" torna-se incoerente, inconsistente, apenas serve como satisfação de ego.
Porque alguém visitaria uma praia artificial? Porque não ficar somente em seus quartos refrigerados? Não tenho idéia. Talvez parte desta atração para o turista seja o mero prazer de saber que tem o poder de desperdiçar os recursos naturais.
A saga de Dubai vai mais alem. Milhares de arvores estão sendo exportadas para os emirados. O clima de Dubai permite satisfazer o desejo de irrigá-las, claro, artificialmente.
De um lado o severo recesso arquitetônico, de outro uma arquitetura grotesca. As duas cenas são o yin e yang no presente momento. Marcam o fim, talvez, de uma era que podemos chamar Década de Bilbao. Foi um boom que assim como se proliferou rapidamente, se extinguira na mesma proporção ou mais rapidamente. Uma época claramente definida na historia da arquitetura.
Cito outro exemplo, querendo não colocar toda culpa em Dubai. Em Barcelona, Jean Nouvel projetara uma torre, Agbar, ou, Águas de Barcelona. Dentro de uma cidade, cuja malha urbana já esta consolidada, o arquiteto Frances cria um objeto de design, um obelisco para si mesmo, marca apenas a própria edificação. Entendo que Barcelona sempre viveu das grandes comemorações, mas sempre as mesmas contemplaram a cidade. A comemoração feita pelo Frances parece querer agradecer a criação do museu em Bilbao.
Quando cito Bilbao, me refiro, sem duvida ao Museu Guggenheim da cidade espanhola, projetado pelo arquiteto Canadense/Norte Americano Frank Gehry, inaugurado em 1997. Provoca um escarcéu, com suas curvas de titânio brilhante e sua presença escultural massiva, foi instantaneamente percebido e aclamado como obra-prima. Turistas vão à cidade apenas para ve-lo. Por esses motivos, Bilbao foi posta no mapa cultural mundial.
De repente a arquitetura estava la. Cada cidade queria ser como Bilbao, ter seu próprio desafio, ser ousada, ter uma edificação icônica avant-garde. Normalmente essa edificação seria um museu ou um arranha-céu. A cada poucos meses, alguém anuncia planos para construir o prédio mais alto do mundo.
As edificações tomam formas malucas, em grande parte devido ao uso de computadores que ajudam os engenheiros estruturais a resolverem estruturas de quase todos as formas a se sustentarem. Estudantes nas escolas de arquitetura, influenciados pelo trabalho de Gehry e outros nomes, brincam com esses programas para criarem formas extraordinárias. Mas poucos sabem que Gehry levou vinte anos apos formado para inflexionar sua primeira laje. Cada projeto de arquitetura, parece estar na busca para ser um ícone original. Pouquíssimos arquitetos tornan-se, pela primeira vez na historia, celebridades da mídia, os starchitects.
Os críticos de arquitetura não estão imunes. Alguns deles, durante essa década, perceberam arquitetura como uma atividade de elite, uma forma de arte de criação espetacular feita pelos, mais ou menos, 20 maiores arquitetos ao redor do mundo para uma platéia de milhares de aficionados. Dessa forma, edificações do dia-a-dia como residências e escolas perderam a atenção.
Toda essa febre parece estar passando. Já sinto que ha mais interesse na chamada "green architecture" do que na arquitetura das formas jamais vistas. Ha um interesse por urbanismo, na maneira em que edificações se implantam na forma das ruas, vizinhanças e espaços públicos. Um interesse na pesquisa por novos matérias. Uma colaboração com outras áreas, outros campos científicos, ao invés de apenas produzir viagens privadas do ego.
Ha um ponto de vista otimista dentro da crise. A mesma propicia as pessoas um tempo para dar um passo atrás do frenético ritmo da economia e pensar duramente sobre o que eles querem fazer. Em uma época de recursos limitados, arquitetos e seus clientes irão focar seus esforços novamente nas soluções de problemas práticos, e transformar os ambientes no que chamamos atualmente de sustentáveis.
Um dia a moda turística de Dubai ira acabar. Existirão grandes piscinas vazias e praias esquecidas. O momento de egoísmo instantâneo terá passado.
A Década de Bilbao produziu maravilhosas edificações, mas foi uma época em que finalidades/intenções sociais foram às vezes perdidas, esquecidas. Arquitetura deve ser usada para fazer lugares para humanos habitarem - quartos, ruas, parques, cidades - não apenas skylines icônicos e palácios como orlas.
Defendo a idéia de que tamanho não e diferente de escala. Às vezes as grandes idéias podem ser simples projetos locais, projetos irrelevantes, em contrapartida as pequenas intervenções podem alcançar uma escala urbana enorme. As dimensões não são o que importam. Creio com firmeza que o papel do arquiteto que criara essa nova época, não consiste apenas em inventar formas ou solucionar problemas, e sim criar espaços com significado (lembro que significado não quer dizer icônico), juntar, compactar relações, esclarecer o que é obscuro, e enriquecer o que é atravancado. Os objetos arquitetônicos existem não para o bem de eles mesmos, e sim para formar lugares no quais a gente seja capaz de captar e apreciar sua complexidade como experiência estética.
Rem Koolhaas disse uma ocasião que tudo é possível onde não ha arquitetura, mas que não se pode fazer mais nada onde ha arquitetura. Pode ser que esteja certo. Creio que o "novo" arquiteto, deve, onde não ha arquitetura (vazio, terrain vague), produzir algo que mantém as possibilidades abertas, sem descartar nada que possa ocorrer à frente. Produzir com a adição de uma construção que nem sempre esta dirigida em primeiro plano a cumprir um programa estritamente funcional. Deixar espaço para o "por vir". A verdadeira legitimidade da dita adição não se localiza na função nem no programa. Tão pouco suas adições a paisagens urbanas se distinguem por sua utilidade ou por sua beleza ostentada. O essencial reside em sua presença material, no qual lhe permite converter-se em um ponto de cristalização da urbanidade. Aquilo que não existe, somente pode ter um lugar.

6 comentários:

  1. (parte 1)
    No entiendo en absoluto la idea de usar el museo Guggemheim Bilbao como arquetipo de lo que usted esta refiriendo. el MGB tuvo un costo inferior al de la construcción de 10 km de autovía en el País vasco y está perfectamente integrado en la trama urbana de la ciudad, ayudando a recuperar para la misma una zona que hasta ese momento estaba dedicada a la industria y a las actividades portuarias. En realidad el MGB ayudó a hacer “ciudad” impulsando el desplazamiento el centro de la misma hacia su ubicación natural, es decir el eje de la Ría de Bilbao.
    El MGB está dentro de un gran proyecto de construcción de ciudad a escala humana. Una ciudad que devuelve el protagonismo a las personas y a las relaciones de las mismas dentro de su trama urbana. Este es el gran éxito de Bilbao. Al contrario que en muchos de los lugares y actuaciones que nombra usted, los arquitectos que han trabajado en esta ciudad lo han hecho con esas directrices. Norman Foster en el Metro, Cesar Pelli en su Master Plan de Abandoibara, o Zaha Hadid en la próxima recuperación de Zorrozaurre, tienen como objetivo principal hacer una ciudad para personas, para ciudadanos. No se si ellos hubieran querido hacer otra cosa (creo que no) pero esa directriz es la que recibieron de los responsables institucionales que dirigen este plan. Incluso las operaciones de más pequeña escala urbana como “Isozaki Atea”, el edificio de Arata Isozaki, están pensadas para crear ese nuevo Bilbao más accesible y pensado para las personas.
    Es más, creo que esta idea que dirige la renovación urbana de Bilbao, es la que va a ser la gran estrella de los próximo decenios: una ciudad pensada para los ciudadanos. No es una idea que haya nacido con Bilbao. El urbanismo y la arquitectura han tenido líneas de trabajo con ese objetivo desde hace siglos. Lo que ocurre es que, en estos momentos, Bilbao ha conseguido “decorar” su proyecto con un edificio singular que ha sido capaz de convertirse en un referente arquitectónico del finales del XX y principios de XXI.
    Se trata, por lo tanto de, un plan que NADA tiene que ver con las grandes operaciones urbanísticas o arquitectónicas a las que usted se refiere. Las ciudades en el desierto no se piensan para las personas que viven en la ciudad existente, sino como grandes zonas turísticas, o, simplemente, para mayor gloria de un país o de un grupo o de una persona.
    Evidentemente hay otros planes urbanos en el mundo que tienen los mismo objetivos “humanizadores”. La ventaja de Bilbao es que:

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  4. Concordo plenamente com tudo que você comentou acima. No título do texto, quando me refiro ao MGB, não quero me referir diretamente à obra. Eu quero fazer uma crítica em relação a toda esta "euforia" gerada, quase que a partir do momento de sua inauguração, que se espalhou pelo mundo inteiro. Esta busca pelo ícone, pelo monumento, o "exagerar" a imagem da cidade. Outra vez, não é um crítica direta a obra de Gehry. Poderia ter usado o Disney Concert Hall para isto, uma vez que foi projetado antes do MGB. Mas não existe toda esta "euforia" por ele. A idéia era pegar o grande ícone, para mim MGB.
    Como você citou, por exemplo, as novas cidades, se é que possamos chamar aquilo de cidade, nos emirados árabes. Aquilo é uma maldita busca ao ícone, em uma patética competição urbana, que no meu ponto visto, já nascem com a placa de fracasso na testa.
    Uma vez estava trocando umas idéias com um professor holândes, que estava morando no Brasil, no momento para fazer uma pesquisa, e no desenrolar da conversa, ele me falou uma coisa que guardo até hoje. "As architects we should know how to make the difference between a cool design and a great design." Claro que Foster, Zaha, Gehry, entre os que voce citou, tem obras de arquitetura que sao "great designs". Mas o que eu vejo hoje em dia, é que suas obras estão se tornando cada vez mais, "cool designs", a forma pela forma, sem trazer nada de novo para arquitetura, "SALESMEN". Salvo, que para eu entender Zaha Hadid, eu preciso conhecer o construtivismo russo, Gehry, preciso conhecer a pop art americana, e Foster, preciso saber de Jean Prouve. Talvez isto me faça entender um pouco e ainda aceitar o que fazem hoje em dia. Mas, salvo tudo isto, foram grandes arquitetos.

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  5. Habria sido difícil usar el Disney Concert Hall como icono de las obras de Gerhy, por la simple razon de que a pesar de ser diseñado antes, no fue inaugurado hasta 2003. Con anterioridad se penso que el diseño de Gerhy era "inconstruible". Fue necesaria una ingeniería de Bilbao para hacerlo posible.
    Creo que esa es la razón de se conversión en icono, su caracter único y revolucionario. La primera vez que di la vuelta al MGB acabado, me sorprendió su capacidad de sorprender, nada era obvio, no había una "vuelta de la esquina" que fuese obvia.

    La arquitectura, inevitablemente ha creado iconos a lo largo de la historia. Las piramides, el Coliseo, la Basílica de San Pedro,La torre Eiffel, Maracana, el skayline de NY.... Todos esos elementos arqutectónicos, y muchos más son iconos de la mordernidad, o de la antiguedad....Las "7 maravillas del mundo" no eran otra cosa que eso.

    La cuestión es si los iconos son solo "aire" o tienen substancia. Creo, sinceramente, que entrar en el atrio del MGB, o en la sala Fish, genera en el visitante una sensación única gracias a que el arquitecto ha sido capaz de unir el continente con el contenido. Es una elección, o un edificio "transparente" que ceda al contenido el protagonismo único, o sumar el edificio a la belleza del contenido.
    Gerhy escogio, creo que con muy buen criterio, la segunda opcion. Y de esa manera un edificio que cumple su cometido, se convirtió en un referente arquitectonico por su belleza y su "osadia". Creo que fue un acierto

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  6. esta questão do ícone é algo que vai além de uma crítica subjetiva sobre a escolha,,, é uma questão que se deve ao tempo,, a torre eiffel, apenas para dar um exemplo, só veio a ser ícone,, muitoas anos após sua construção,, o skyline de NY, virou ícone, com a inserçao de novas edificaçoes ao longo do anos, as pirâmides, após outras civilizacoes a conhecerem,,, enfim,, é muito cedo para falarmos se o MGB vai ou nao ser um ícone,, o que posso crer é que ele iniciou a criaçao e projetos de supostamente "novos ícones". Agora falando sobre arquitetura, na minha opinião, o MGB, é, e sempre será apenas um museu,, ele não está aberto a transiçoes físicas e teóricas, é algo que foi construído para ser só ele,, digo,, o rio de janeiro nao é apenas a terra do maracanã,, paris nao é apenas a terra da torre eiffel, roma náo é apenas o coliseu,,, mas bilbao,, é o guggenheim.

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